segunda-feira, 31 de maio de 2010

Memórias póstumas de Luísa

Luísa vive com os seus pais. Ela acordou as 13h00 de um Sábado de março. Antes de se levantar pensou que mais um dia havia se passado e que estava mais velha do que ontem. Perguntou-se quais seriam as cobranças do dia. Lavar louça, tomar um rumo na vida. O que Luísa não entende é o porquê.

Outro dia, quando a nossa querida protagonista usava uniforme e almoçava com pressa por conta do horário do trabalho, impressionou-se com a lata de refrigerante de uva, isso ocorreu porque o céu estava completamente azul e é nesses dias que ela se impressiona com pequenas coisas. A anotação foi: como poderia existir outra realidade que não a de estar sentada na calçada em um dia de verão com o sol queimando-lhe as costas, de olhos fechados bebendo câncer em lata. Naquele momento, não lhe pareceu possível que a alguns quilômetros dali uma filha estava brigando com a sua mãe porque voltou tarde para casa, nem que Pedro, o pedreiro, estava sentado melancolicamente na linda construção, que fica mais bela em dias de céus azul, comento a sua 748ª marmita e que pensava em como sustentar uma mulher grávida a quem ele não amava. Olhou para as bolas laranjas do fio elétrico e achou-as bonitas.

Luísa levanta-se, dá bom dia ao seu pai, a sua mãe e a sua irmã e morde uma ameixa grande e roxa. Tranca a porta do seu quarto, o que é costume, e ascende um cigarro escondido. O cigarro é imporante. Sem ele Luísa nunca teria parado para pensar sobre certas coisas. Ela fuma porque acha bonito, um bom pensamento puxa um cigarro e um cigarro puxa um pensamento. Pensa no futuro distante, em casinhas de sapê, na idéia de felicidade. Agora o céu está azul e nossa querida dá uma risada escondida, do tipo que só se dá quando estamos absolutamente sozinhos. Ela liga para uma amiga na esperança de tomar um café. A voz da sua amiga faz com que os seus olhos fiquem marejados, ela sabe porque, mas não conta a ninguém. Senta e assiste o reflexo do mundo lá fora pela televisão. Ela se aproxima da janela e olha os prédios sob o sol frio.

Em um raio de 1 km², Luísa é a única pessoa que olha pela janela. Ela aprecia as nuvens que refletem a luz do sol, pensa que tudo mudou tão rapidamente que ela nem percebeu. Ela queria algum tipo de vida. Na verdade, ela quer qualquer coisa inexplicável. No fundo, bem no fundo ela queria essas coisas que aparecem nos seriados da televisão. Luísa deseja subitamente sofrer uma parada cardíaca, estrebuchar no chão, morrer, virar história. Ela para e olha para qualquer coisa o maior tempo possível sem tentar pensar em nada. Missão impossível. Nossa querida, bolando um baseado acha engraçada a situação...

Ela claqueta em um jazz e ri do futuro, porque, e ela dizia: é uma merda muito engraçada, a gente mal nasce, já começa a morrer.

Delírios de um dia de sol

Orgasmo de sol
Estou bêbada de natureza
O azul explode em minha alma
Respiro a beleza do mundo inteiro
Não quero lembrar do concreto de um amarelo sem igual
Desejo viver o concreto, ser a luz do sol em todas as coisas
Refletem os meus olhos a beleza infinita do entardecer
Como são belos os prédios, imponentes sobre o dia
Tudo vive e danço ao som do imediato
Meu coração alucina de paz
Sinto o verde, mas não posso palpá-lo
As cores, como um tomar de fôlego inexpressível, me tomam
Pertenço ao mundo finalmente.
Os aviões tão brancos passam vagarosamente
Tudo é ao mesmo tempo e a beleza converge para tornar-me,
Sem igual.
Pulo para o vento e caio para a terra
Que lindo é tudo isso aqui de cima
Me deleito de azul e me torno o arrepio.
Sou humana.