sexta-feira, 30 de julho de 2010

Finalmente, sim!

Eu prometo crescer a cada dia, todos eles, mesmo nos feriados.
Prometo, juro de pé junto, ir além, sempre além daquilo que me cerca e nunca somar pra mais, mas somar pra melhor, melhor todos os dias restantes da minha vida.
Eu darei atenção a cada detalhe como Vinícius a cada um de seus grandes amores.
Eu subirei alto, ultrapassando os limites da razão e tudo será beleza, gratidão, alegria.
Alegria tão espontânea, tão grande, tão espaçosa que preencherá todos os cantos de todas as salas e de cada instrumento e de cada pessoa e ninguém mais cantará à tristeza, porque será tudo felicidade, tudo brilho nos olhos, tudo entrega, tudo orgasmo.
Enfim, completa, de todas as maneiras, ampla, pacífica e livre!
Eu vou sair pelo mundo, clara, leve, cândida, vou cantar por aí, me farei ser ouvida, porque quem canta, meus queridos, os males espanta!

domingo, 25 de julho de 2010

Alta vive

No pícaro dos pícaros
Maior do que todos os homens
Mais alta que a terra
Sobre a abóboda do céu
Abrangendo a amplidão do universo
Além do infinito
Através dos eflúvios nasais
Sou inteira
Me fundo com o espaço, dissipo-me, enfim livre do físico
Completa, imensa, pura, em forma de som.

sábado, 17 de julho de 2010

Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira

Requiem para Joana


Imensa, mórbida e exata ela tropeçou e lá se foi a única vida gerada a partir das minhas mãos. Joana, um dos meus grandes amores inanimados que me traria tanta alegria. Ai se estivesse entre nós pecadores!
Que o bom deus da natureza te guarde Joana, me juntarei a ti brevemente.

Atenciosamente, su madre
Luísa

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Os Acrobatas

Subamos!
Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse fisica dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.

Subamos!
Como dois atletas
O rosto petrificado
No pálido sorriso do esforço
Subamos acima
Com a posse física dos braços
E os músculos desmesurados
Na calma convulsa da ascensão.

Oh, acima
Mais longe que tudo
Além, mais longe que acima do além!
Como dois acrobatas
Subamos, lentíssimos
Lá onde o infinito
De tão infinito
Nem mais nome tem
Subamos!

Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite
Subamos!

Tu e eu, herméticos
As nádegas duras
A carótida nodosa
Na fibra do pescoço
Os pés agudos em ponta.

Como no espasmo.

E quando
Lá, acima
Além, mais longe que acima do além
Adiante do véu de Betelgeuse
Depois do país de Altair
Sobre o cérebro de Deus

Num último impulso
Libertados do espírito
Despojados da carne
Nós nos possuiremos.

E morreremos
Morreremos alto, imensamente
IMENSAMENTE ALTO.


Vinícius de Moraes

Meu poema predileto depois de "A vida assim nos afeiçoa" do Manuel Bandeira